O Continente da Esperança
Outubro 2007 · Arautos do Evangelho 5
Editorial
A Antigüidade, não se concebia a existência de uma religião universal destinada a salvar todos os povos. Cada nação ou cidade tinha as suas próprias divindades, que protegiam com exclusividade os seus membros, havendo até os deuses familiares, os “lares”, cujo culto era transmitido de pai para filho. E até mesmo entre os judeus, o único povo a adorar o Deus verdadeiro, predominava análoga concepção religiosa: Deus só protegia a nação eleita, enquanto todas as outras estavam votadas à perdição. Por isso, a idéia de “missão” para anunciar a verdade e a salvação aos gentios era impensável. Não obstante, não faltam na Escritura passagens em sentido contrário, profetizando uma futura conversão de todos os povos ao verdadeiro Deus. O Salmo 21, cujo versículo inicial foi recitado por Jesus no alto da Cruz — “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” — prediz a conversão de toda a terra ao Senhor: “Converter-se-ão ao Senhor todos os limites da terra” (Sl 21, 28). A fundação da Igreja Católica inverteu essa concepção exclusivista do pensamento religioso. O próprio Jesus Cristo enviou os Apóstolos a anunciar o Evangelho aos pagãos: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19).
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Sendo o homem criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26) constitui a humanidade, em sua rica pluralidade de raças e povos, um magnífico vitral multicolorido que espelha as perfeições divinas. Desse conjunto, temos hoje apenas uma figura incompleta e diminuída. Mas no Céu, quando se concluir a História e os homens tiverem ocupado todos os tronos abandonados pelos anjos decaídos, o contemplaremos em toda sua beleza. E compreenderemos por inteiro o plano magnífico da criação, assim como o contributo que cada raça — branca, negra ou amarela — foi chamada a dar. Os povos da Europa já têm deixado na História e na Civilização, a marca de sua fé e de uma rica cultura cristã. Mas, outros, como os da África negra, também deverão produzir os seus belos frutos no campo da espiritualidade e da cultura. Com efeito, quando a graça divina lhes iluminar a alma, eles manifestarão maravilhas, acendendo com brilho específico as partes que lhes estão reservadas no feérico vitral das raças e civilizações, criado por Deus. Mas para que a luz de Cristo ilumine esses povos, torna-se necessário dar cumprimento ao mandato de Cristo aos Apóstolos, de evangelizar toda a Terra. A África espera, ainda, dias de grande esplendor, quando todos os seus povos se converterem ao Senhor. E ao chegar esse momento, uma alegria especial terão, no Céu ou na Terra, aqueles que rezaram, agiram ou se sacrificaram para que o Continente da Esperança realize o projeto de Deus.